terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bernardo.

Ela queria um Bernardo, com um amor quase escondido, um sentimento mal alimentado, uma relação maltratada, mas que lhe faria bem. É apenas Sophia, e ele, seu sonho guardado, mal inspecionado, que nunca procurou de verdade. E agora ele veio, indiferente, distante, carinhoso em segredo. Andar de mãos dadas, rir, fazer cócegas, era quase um namoro, mas sem as obrigações torpes que os relacionamentos impõem. Mas era suficiente? Não falta a eles um pouco mais de publicidade, envoltoriedade, assumir que estão juntos e tudo o mais?
Ela quer, ele é impassível, tanto que mal sabia descrevê-lo, ou entendê-lo, sonolento, errante, íngreme dentro das suas próprias dispersões, distrações nossas, amor.
Ela gostava, do modo engraçado como ela a encarava, e do modo como apertava seu quadril, ela odiava, mas ele se sentia tão satisfeito, por sabê-la irritá-la tão bem.
Não, não era amor, mas era quase, tinham os mesmo vícios, os mesmo gostos, os mesmo anseios, eram Sophia e Bernardo tal qual o modo que uma autora os descreveu.
Andavam juntos, se encontravam, saim, ficavam, e ela ainda sentia um pouquinho do ciúme que fazia questão de repudiar.
E ele, não sentia, e se sente, eu não consegui compreender isso por Sophia. Mas tenho esperanças, porque se gostavam, apesar de se manterem atrelados demais aos antigos amores frustrados.
Não tinham nada, nenhuma aliança, nenhum palavra, nenhum compromisso, só a atração, a conversa, as cócegas, e por mais pouco que fosse, e mais insignificante que parecesse, ela queria que ele fosse Bernardo, e mesmo que não fosse, no fim, era melhor que Pedro, e só por isso, já valia a pena.